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Rio de Janeiro, 14 jun (Xinhua) — A presidente afastada Dilma Rousseff completou no último domingo um mês nesta situação devido à suspensão de até 180 dias determinada pelo Senado, da qual o presidente interino, Michel Temer, aproveitou-se para alterar a estratégia diplomática do país e deixar de priorizar as relações com os BRICS.

Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul formam o grupo dos BRICS, cuja solidez tem sido questionada devido à recessão econômica que assola alguns de seus membros e da incerteza política vivida no Brasil, um país que até agora tem sido um dos principais motores do bloco.

Analistas chineses acreditam que o país sul-americano pode se tornar um peso-pesado ocidental para contrabalançar a influência dos BRICS nos fóruns de governança global e dessa forma minar a eficácia dos mecanismos do grupo.

Virada política brasileira

Desde a criação do bloco BRIC em 2009 (antes da adesão da África do Sul, em 2010), o Brasil sempre priorizou as relações com os membros do bloco, no âmbito da cooperação Sul-Sul, uma escolha que o governo interino parece não ter intenção de manter.

O novo ministro das Relações Exteriores do Brasil, José Serra, anunciou, logo após o estabelecimento do governo interino, que os focos principais da “nova política externa” brasileira são, dentro da América Latina, a Argentina e o México, e fora dela, os Estados Unidos e a União Europeia (EU).

No caso dos BRICS, Serra se limitou a dizer que o Brasil vai se esforçar para aproveitar as “oportunidades” que o bloco oferece, mas sempre tem o comércio e os investimentos mútuos como principais objetivos, sem usar os termos “prioridade” e “cooperação estratégica” que Rousseff utilizava.

O diretor-executivo do Centro de Estudos Brasileiros do Instituto de América Latina da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Zhou Zhiwei, assinalou que, ao contrário da prioridade que o governo Rousseff dava aos países em desenvolvimento, a administração Temer busca estabelecer “um novo equilíbrio entre países desenvolvidos e em desenvolvimento”.

Mais especificamente, Temer tentará fortalecer a relação com os Estados Unidos e Europa a fim de que estes reconheçam a legitimidade do governo interino, e, para tanto, será forçado a manter distância dos membros do BRICS para evitar desagradar Washington.

A morte dos BRICS?

Cunhado por Jim O’Neill, economista do Goldman Sachs, em 2001, o termo BRIC chamou a atenção do mundo primeiro pelo grande potencial de crescimento econômico e contribuição global de seus membros.

Em 2006, o Goldman lançou o fundo BRIC, que atingiu um recorde em 2010 graças ao brilhante desempenho econômico de Brasil, Rússia, Índia e China, em um momento em que mais de 60% do crescimento global deveu-se à contribuição desses países.

No entanto, com a queda dos preços internacionais das matérias-primas e o efeito de transbordamento negativo das medidas de flexibilização quantitativa nos países desenvolvidos, a situação dos BRICS piorou, e até mesmo a Rússia e o Brasil mergulharam em uma recessão.

Como consequência, Goldman anunciou a rescisão do fundo em novembro de 2015, quando os bens registraram uma contração de 88% em relação ao recorde de 2010. Essa decisão foi usada por alguns meios de comunicação ocidentais para inferir a “morte dos BRICS”.

Zhou destacou que estas deduções são exageradas e nada razoáveis, porque a turbulência atual e os ajustes no novo ciclo econômico não modificarão as vantagens demográficas e comerciais de que dispõem os BRICS. Ao contrário, o ambiente externo desfavorável poderia levar a um maior interesse para cooperação dentro do grupo.

Shen Yi, diretor do Centro de Estudos dos BRICS da Universidade Fudan, na China, constatou que o grupo já vai além do conceito criado por Goldman e tem sido uma plataforma que os países emergentes utilizam para buscar mais voz no sistema econômico internacional.

“Não importa como a economia de cada país dos BRICS se desenvolve, este mecanismo de cooperação já tem uma existência objetiva e continuará a se dedicar a melhorar a governança global”, disse ele.

Melhoria estrutural

Em julho de 2014, os líderes dos BRICS se comprometeram, em Fortaleza (CE), a estabelecer um banco de desenvolvimento e um fundo de reserva para as emergências. Essa tentativa de aumentar a independência financeira dos países em desenvolvimento foi considerada, por alguns meios de comunicação ocidentais, uma provocação contra a atual ordem financeira mundial.

Em abril deste ano, o Banco de Desenvolvimento dos BRICS anunciou o primeiro lote de empréstimos, no valor de US$ 811 milhões, para apoiar os projetos de energias renováveis na China, Brasil, Índia e África do Sul.

Neste momento dos primeiros resultados concretos do mecanismo, a incerteza política em que o Brasil está mergulhado poderia causar a retração da sua política externa e levar a um menor envolvimento nos assuntos do grupo, advertiu Zhou.

“A fim de minimizar os possíveis impactos negativos, os membros devem reforçar os laços econômicos e tirar proveito dos mecanismos de alavancagem, como o Banco de Desenvolvimento e o fundo de reservas de emergência, para promover a coesão e a interdependência, de modo a enfrentar os desafios comuns”, disse ele.

Enquanto isso, Shen convidou os cinco países dos BRICS a unir esforços para construir um mercado comum, reforçar o fundo de reserva de emergências e estabelecer mecanismos de empréstimos anticíclicos a longo prazo, processos nos quais a China pode desempenhar um papel importante, proporcionando fontes de financiamento, por exemplo.

“A China pode ter um papel criativo na facilitação do comércio e dos investimentos dentro dos BRICS, utilizando as suas vantagens em termos financeiros e produtivos para ativar o ciclo interno do grupo, que ainda tem muito espaço a explorar.”